Não apenas sobre a fundamentação dos princípios básicos da economia política, dos conceitos sobre divisão do trabalho e da necessidade quase imanente dos seres humanos de realizar o que se chama de comércio ou negociações e as razões que apontam as causas da riqueza das nações. Mas o livro do Smith traz inúmeras referências magistralmente esmeradas e extremamente minuciosas-com o objetivo segundo o próprio autor de se ater à precisão dos fatos- sobre algumas curiosidades como, por exemplo, a origem e o uso da moeda. Coisa trivial/prosaica hoje mas muito inconveniente na Antigüidade.
Segue um excerto:
O açougueiro terá mais carne na sua loja do que a que necessita para si mesmo, e tanto o cervejeiro como o padeiro estariam interessados em adquirir uma parte desse excedente. Mas só têm, para oferecer em troca, os diferentes produtos dos seus respectivos negócios, e o açougueiro já possui, suponhamos, todo o pão e cerveja de que necessita. Neste caso, não se poderá efetuar nenhuma troca entre eles. O açougueiro nada lhes pode vender, nem eles podem ser seus clientes; e assim os três homens não podem prestar serviços uns aos outros. A fim de resolver estas situações, os homens previdentes devem ter procurado, em cada período da sociedade, depois do estabelecimento da divisão do trabalho, efetuar os seus negócios de modo a ter sempre à sua disposição, além do produto do seu próprio trabalho, uma certa quantidade de qualquer outra mercadoria facilmente negociável com as diversas pessoas que produziam aquilo de que eles necessitavam.
Nas idades mais primitivas da sociedade, diz-se que o gado constituiu o meio de troca mais usual; e, se bem que fosse um meio pouco prático, sabemos que muitas coisas eram avaliadas a partir da quantidade de gado obtido em troca por elas. A armadura de Diomedes, afirma Homero, custou apenas nove bois; mas a de Glaucus já custou cem. Sabe-se que na Abissínia o sal foi usado com meio normal de troca; em algumas zonas da costa indiana, certas espécies de conchas; na Terra Nova, bacalhau seco; na Virgínia,tabaco;em algumas de nossas colônias no oeste da Índia, açúcar; noutros países, peles e couro curtido; e existe hoje uma aldeia na Escócia onde é normal, segundo fui informado, que um trabalhador entregue pregos em vez de dinheiro na loja do padeiro ou na cervejaria.
Em todos os países, porém, os homens parecem ter sido finalmente obrigados a preferir metais para este tipo de utilização. Além de manterem um valor tão estável como qualquer outra mercadoria (que raramente é tão estável quanto eles), os metais podem ainda, sem qualquer desperdício, ser divididos em qualquer número de partes e, por fusão, reunidos de novo; nenhuma outra mercadoria igualmente durável possui esta qualidade. Mais do que qualquer outra, esta característica transforma os metais no melhor meio de troca e circulação.
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